Amo o mar! Minha mãe me contou que a primeira vez que vi o mar, vivi um grande encantamento. Olhei extasiada, apertando as mãos à frente do peito. Ela me incentivou: “Vai, minha filha, pode entrar”. E eu, acostumada a ouvir “não pode brincar com água, vai gastar, vai se molhar, vai se resfriar…”, perguntei espantada: “Posso mesmo? Tudo isso é pra mim?”
Talvez, poderiam dizer os astrólogos, o movimento das águas me maravilhe tanto porque tenho o sol em câncer, um signo de água. Outros, talvez, digam que sou filha de Iemanjá, a Rainha do Mar, embora tenha também paixão por rios, lagos e cachoeiras.Mas o mar, ah… o mar! Este fala ao meu coração, a todos os meus sentidos com intensidade: sentir a areia sob meus pés, a água, a brisa e o sol tocando meu corpo, o cheiro delicioso da maresia, o sabor do sal que sempre fica nos lábios, o marulhar das águas ou o som das ondas quebrando, a imagem daquela imensidão que se estende até onde o olhar alcança.Nos momentos de encontro com o mar, sinto-me abençoada por estar ali, mais em paz com a vida e comigo mesma, sinto-me mais perto do divino e mais perto de toda a minha humanidade, mais perto de minha transcendência e de minhas sensações.
Sempre me encanto com o movimento das ondas e a sensação de como me envolvem. Mãos que acariciam o corpo amado e recuam suavemente em despedida. Mas o mar também me assusta com seu poder destruidor, selvagem, com sua profundidade e escuridão, com seus mistérios, perigos, histórias e magia. Luz e sombra.
Histórias de sereias falam de encantamento, de sedução e de riscos que o mar oferece.Na Odisseia, o herói Ulisses na volta para casa foi amarrado ao mastro do navio para não ser seduzido pelo canto das sereias que o levariam à morte, enquanto os remadores se protegeram usando cera nos ouvidos para evitar o sortilégio daqueles seres metade mulher, metade peixe. O mar e suas muitas histórias de tesouros e navios-pirata também povoam nosso imaginário.
Como a vida, o mar em seu fluxo e refluxo permanente ora avança, conquista, afaga, domina, ora foge, se retrai, deixa a alma exposta; ora preenche, se faz presente, ora nos escapa, se esquiva. Nos seus vaivéns é força agressiva, indomável que arrebenta nas pedras ou na areia, cria valas, correntes que arrastam os desavisados e que se apossam de suas almas. É, porém, abraço, nutrição, acolhimento, persistência, beleza, calmaria. Canto de guerra e canção de paz; canto de acordar e canção de ninar.